terça-feira, 25 de agosto de 2009

Atrasos.

Todo o cansaço de si mesma espalhava-se por seu corpo devagar, sendo aos poucos regado pelo sangue filtrado.

Sístole.

A vida pára.

Diástole.

Ei, você perdeu a chance. Sinto muito, entre na fila novamente.

O tédio antigo de muitos domingos desocupados cobria tudo, inclusive ela, como uma fina e irremovível camada de poeira. Mas poeira nunca pareceu pesar tanto como aquela exaustão da própria vida pesava sobre sua cabeça, forçando-a para o chão ou abaixo dele, não sabia. Apenas esticava as pernas sobre as almofadas macias e espreguiçava-se, mexendo-se lenta sob pressão de ser.

Fingia.

Seus dedos procuravam em vão pelos bolsos algum resto de amor próprio sempre perdido nunca encontrado. Suspirava, desejando fumar, mas não havia cigarro. Lembrava-se de ter fumado o último enquanto esperava o ônibus, amassada entre ocupações e atrasos, entre pessoas e pessoas.

Monstros.

Não aceitava que sua própria espécie pudesse causar-lhe tanto nojo e desprezo.

Não queria.

Sentia-se monstruosa nas manhãs eternas das segundas-feiras. Cansada de ser apenas ou cansada de fingir que nunca fingia.

Fumava.

Um ou dois, talvez, nove ou dez cigarros rápidos e estressados enquanto se re-adaptava ao caos diário. Tremia, tremia muito enquanto tinha uma vida. Conversava, mentia, aceitava. Nada seria ou teria sido como algum dia ela esperou.
Sístole.

Você cansa.

Diástole.

Você é jogado de volta.

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