terça-feira, 25 de agosto de 2009

are you happy with yourself?

Escovava os dentes amarelados de tantos cigarros e cafés e pensava que tinha olhos de fracassado. Talvez fosse, mas não tinha certeza.
Ainda era cedo, costumavam dizer, ainda era cedo e há uma vida inteira pela frente. Nada é definitivo, então escove os malditos dentes e vista-se para ir procurar um bom emprego. Cuspiu a água cheia de espuma na pia e pensou em fazer a barba, mas não agora, não às três da tarde de uma segunda-feira quente, não aquela altura de uma vida perdida. Jogou água gelada no rosto e se encarou outra vez no espelho, vendo seu rosto pálido e molhado sem nenhuma expressão. Puxou a toalha fina e secou-se, jogando-a sobre o armarinho do banheiro, sem qualquer preocupação, batendo a porta e correndo os olhos pelo apartamento de dois cômodos que era tão caro para algo tão pequeno, mas estamos na capital, meu bem. O custo de vida não é para você, você devia ter ficado lá, na casa da sua mãezinha enquanto fingia que era um escritor de uma cidade interiorana qualquer.
Ele suspirou.
Precisava de café, mas sabia que todo o pó havia acabado numa dessas noites insones em que ficava observando a vida da metrópole da janela de seu pequeno apartamentinho de aluguéis atrasados. Precisava de café e, talvez, de uma vida, mas não tinha certeza se encontraria algo decente nas parateleiras mal cuidadas do mercadinho da esquina. Pegou o jeans velho da guarda da cadeira, tateando os bolso atrás de dinheiro. Não encontrou nada e jogou-se no sofá-cama não tão macio assim, sentindo as costas doerem logo em seguida. Tateou o maço de cigarros do lado do sofá e o isqueiro.
Acendeu e, por um momento, esperou. Não sabia pelo que, mas sabia que não aconteceria. Tragou com força e quase desespero, expulsando o gosto da pasta de dentes barata enquanto soprava devagar a fumaça do último cigarro.

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